sexta-feira, 11 de julho de 2008

In all you raging glory...

Uma olhada em volta, uma procurada cá e lá fazem aparecer a diferença: quase não há mais músicas para ouvir aqui. O texto, a confissão está no fim, e é justo traçar isto com a minha vida que, afinal, nunca passou de texto e música. In a simple twist of fate, eu agora fico pela metade quando estou aqui, nesta cidade, que já não tem mais espaço para minhas velhas músicas e poucas ilusões.
(Taí uma coisa que me incomoda - falar em pessoas tendo ilusões. Mas não consigo pensar num termo melhor para definir este estado em que ficamos espacialmente dispersos, quase inertes, enquanto as músicas começam a ser reconhecidas à volta, os assuntos se embaralham e pessoas há tanto tempo desaparecidas reaparecem por um breve instante).
Há restos de mim espalhados por todo o lugar, aquelas digitais espectrais que ficam registradas nas coisas, nos lugares e que se manifestam com um olhar ou uma palavra musical. É incrivelmente solitário falar nisso aqui, porque tenho a incômoda sensação de que não terei outro lugar onde eu possa olhar em volta e sentir que tudo está no seu devido lugar; acho que essa impressão é muito pela idade, e muito mais pelas escolhas, claro. (Muito embora seja difícil falar em escolhas quando tudo pareceu tão natural, até mesmo óbvio - e é completamente estúpido pensar se havia realmente alguma escolha. Especialmente porque escolhas só se revelam como tal quando já foram feitas e deixaram de ser escolhas). Tenho estado aqui cada vez menos, e cada vez que venho alguma coisa é apagada, retirada, levada para outro lugar; ou assume um aspecto incômodo de mofo. O que antes era feito com tanta dedicação, tanto esmero torna-se (não de repente, lentamente) mecanicamente sem consequências - leva exatamente aonde deveria levar, sem ilusões espaciais, sem ser mais do que estritamente deveria.
As digitais fantasmagóricas também aparecem cada vez menos, porque há muito menos lugares onde deixá-las - quando o "menos" indica intensidade. Lugares - um espaço, aqui dentro - em que vidas paralelas são vividas aos pedaços, descontinuamente, todas ao mesmo tempo. Ou melhor, restos de vidas, vestígios de vidas, em que cada vez é mais difícil que uma apareça em toda a sua glória. De consolo, a preocupação antiga, antiga de coerências e sentidos, de continuidades e páginas completas, esta foi deixada de lado. Não se pode banir todos os mistérios de sua vida por uma operação tão,tão...
O reconforto - necessário para que se possa prosseguir, mesmo que os caminhos só levem para outras dispersões - está aqui, neste processo que não é só escrita, mas também é encontrar alguns sinais (smiled at your funny little ways, the measure of my dreams, never knowing out what it means), neste momento em que a parada é mais importante do que o que está à frente. Para juntar pedaços? Não,não, mais para que ainda existam sinais, uma vez que eles saem do mesmo lugar onde chegam, embora passem por muitas, muitas pessoas - às vezes até mesmo trazem algumas consigo, mesmo que seja para dar algum sentido de unidade a toda esta dispersão, a todos estes vestígios.
O momento passou, o nunca-saber e os funny little ways ainda estão aqui.
Boa noite.

2 comentários:

Gabriella Villaça disse...

Você voltou, deixa eu arrumar a bagunça, pode sentar ali naquele sofá, vou fazer um café, deixa eu trocar esse cd não esperava você chegar assim de surpresa.Mas que alegria, tem tanta coisa acontecendo, na verdade tudo em volta se mexendo e a gente aqui sentado nesse sofá pensando no que realmente muda e afeta, esses livros no chão são porque a estante acabou e vou ter que ver mais umas para os que chegaram, mas por enquanto ficam perto do sofá pra eu ir lendo como posso.
Mas, ai que saudade.
Essas lembranças dentro dos tacos, esse assoalho antigo sempre me encanta.
a intensidade das coisas tem sido outras, a sede o gosto tbm, envelhecemos num ritmo desforme demais, suportar isso fica confuso mas adaptavel.

All I know is
La la la la la la la la la means
I love you

lembra disso?
é da tv, esse filme passa umas 3 vezes por ano mas eu ainda assisto e se der mole choro, mas não falavamos disso.

You have to go home.


"Passe em casa, to te esperando"

Gabriella Villaça disse...

A sobra do teu rosto na minha memória como se lembrando a cor do vestido se montasse um cenário, colocou o mesmo disco em que rapaz diz de levar a saudade em blusas com botões e um papo sem cabeça que se ouvia, van morrison e um par de olhos claros cabelos loiros era isso que faltava os ouvidos calmos, não, the times they are a changin' era uma resposta mais justa but ain't me baby era outro que ficava naquela sala, teu cigarro aceso sendo apagado no taco solto do chão essa sua mão solta no ar parada como se fosse pegar a fumaça que te escapa nessa parcela de ar que teu pulmão não dá mais conta, um plano seqüência simples que começava na cor do vestido ao modo que em que fumava despropositada sentada no chão, minha memória me prega cada peça, qual era o numero do telefone, será que você ainda lembra de alguma coisa, nunca entendi essa sua onda de evitar palavras, de sumir enquanto eu aparecia. Foi numa dessas que deixei de estar aqui e não vindo não sei bem, mas você começou a negar que também vinha .